30 de mar. de 2012

Design e Identidade Visual

      A identidade visual no design é ambivalente, pois constitui o objeto fisicamente (cor, textos e linhas) e de modo inatingível (sensações, sentimentos e emoções). Por sua vez, o design está impregnado pela identidade visual de forma material e imaterial.

          Para Aristóteles, a identidade é a unidade da substância “... sentido essencial, as coisas são idênticas do mesmo modo em que são unidade, já que são idênticas quando é um só em sua matéria...” (ARISTÓTELES apud ABBAGNANO, 1982, P 503). Leibniz (1982), redefiniu como conceito que precisa se estabelecido, diz ele “... a própria identidade pode ser estabelecida ou reconhecida como base em qualquer critério convencional.”

          Historicamente, a identidade visual no design consolidou-se mais fortemente a partir do século XVI com as manufaturas reais na Europa. A produção de tecidos, objetos de cerâmica e do mobiliário incorporaram imagens características do período, que referenciavam primeiramente o poder da corte e mais tarde seus costumes.

          A ideia de incorporar aos produtos do design a identidade visual como ferramenta de marketing _embora de forma incipiente e intuitiva_ revela-se à partir do século XVII e XVIII quando os produtos começam a receber rótulos, embalagem e sobretudo a propaganda. As imagens que integram o objeto de design do período em questão querem aproximar o produto do seu consumidor com apelos sentimentais (paisagens locais e regionais) ou da modernidade anunciada.

         Posterior ao período caracterizado como Revolução industrial, séculos XVIII e XIV, a indústria já tem domínio das ferramentas de marketing e a identidade visual passa a ser um valor imprescindível ao design. Com a Revolução Industrial a internacionalização dos produtos, transformou a identidade visual na ponte que liga o objeto ao usuário. A essa altura, indústria e designers buscavam mapear os domínios sensoriais dos consumidores para aprimoramento visual e identitário de seus produtos. Também nesse período, várias linhas de diferentes escolas surgiram (Arts & Crafts, Bauhaus, Ulm...), buscando suprimir os registros anteriores em nome de um novo e bom design, cuja linguagem, forma e materialidade estivesse conectada ao futuro e definitivamente livre do passado. Os produtos desse período são hoje avaliados como ícones de uma geração, que guardam em si toda força identitária da sua época.

          Paralelo aos acontecimentos da industria e desenvolvimento do design, seguiam os estudos que buscavam compreender o desenho e o usuário e os envolventes desse imbricamento.

          No campo da comunicação, a mensagem visual transmitida pelo produto, segundo Munari (1985), atuam nos sentidos com estímulos sonoros, térmicos, dinâmicos etc e provocam uma reação interna variável, determinada pelo contexto em que está inserido e transformado pelos filtros sensoriais, operativos e culturais do receptor.

          O entendimento do design enquanto imagem geradora de significados, é sustentada por Ferrara (1986), que afirma que os signos constroem a imagem, que é codificada e retida na rotina do cotidiano e se revela a partir da exposição da lógica de sua linguagem. Nesse sentido, a linguagem é a grande força de socialização de um produto de design (PARK apud KOCH, 2009). A linguagem do design revela-se como o lastro da identidade visual e para Pignatari (1968), a ideia de informação está sempre ligada a ideia de seleção e escolha e desse modo, o design deve oferecer estímulos que possam ser interpretados pelo maior número de usuários. 


         O design enquanto uma informação deve ser persuasivo e de alto poder de comunicação (SCHLESINGER apud KOCH, 2009). Pela definição da palavra estética (ais-thesys) que em grego significa “Percepção sensorial”, conclui-se que, estética enquanto adjetivo do design será também estímulo para o usuário. Todavia, a identidade visual apresenta-se dentro de um sistema complexo com ligações em áreas mais amplas do espaço e da cultura, envolvendo os seus aspectos em um processo de criação de sentidos. Portanto, a identidade visual no design será prevalente para um maior número de pessoas, quando se atribuírem a ele qualidades que contemplem além dos sentidos _ou a maior parte deles_, também os aspectos econômicos, sociais, culturais etc. 


         A identidade visual, por fim, desempenha grande importância dentro do ensino da disciplina do design, pois para o designer a identidade permite avaliar a qualidade, durabilidade e longevidade dos seus produtos. Também possibilita ao futuro profissional entender os processos mentais do usuário e conciliar de forma objetiva os “estímulos e a interpretação”, para uma melhor e mais eficiente “representação”.




Referência Bibliografia:
FERRARA, Lucrécia D’Aléssio. Leitura sem palavras. São Paulo: Ática (Série Princípios), 2000.
KOCH, Mirtes Birer. Parques Urbanos Sul-Americanos: Imaginação e Imaginabilidade. 2009. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade de São Paulo
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. Lisboa: Editora 70, 2006
PARK, R. E. A cidade: Sugestão para a investigação do comportamento humano no meio urbano. In: VELHO, Otávio Guilherme (Org.) O fenômeno urbano. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973
PIGNATARI, Décio. Informação, Linguagem e Comunicação. São Bernardo do Campo: Atelier Editorial, 2002