A
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada
na cidade do Rio de Janeiro, marca os vinte anos da Conferência da ONU Rio-92 ou ECO 92 como ficou conhecida. A expectativa é de
conciliar uma agenda para o desenvolvimento mundial sustentável para as
próximas décadas, renovando o compromisso dos países participantes.
Os
conferencistas se dividem entre representantes governamentais, Chefes de Estado
e do Governo dos países-membros das Nações Unidas, além de organismos não
governamentais que juntos irão discutir o “zero draft” (minuta zero), que é um
texto formatado a partir da analise das decisões tomadas e implementadas em
Conferências anteriores, base para avaliar o progresso e as demandas não
observadas.
Os
debates terão como temas principais, a economia verde no contexto do
desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza e a estrutura
institucional para o desenvolvimento sustentável. O compromisso da Conferência
é de criar instrumentos para aplicação de políticas e programas para um
crescimento econômico sustentável, com redução das desigualdades sociais e
proteção ambiental. Também, lançar discussões sobre as estruturas das instituições
ambientais, no sentido de fortalecer as capacidades de trabalho do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aumentando a provisão de recursos para
apoio efetivo aos países em desenvolvimento.
A
agenda 21 é um documento que foi adotado pela Conferência Rio-92 e é o principal
instrumento para a reconversão do atual estado da sociedade industrial para uma
sociedade mais equilibrada, justa e sustentável. Os princípios que norteiam o
programa de ação da Agenda 21, foram estabelecidos por 179 países que em escala planetária, pretendem um novo
padrão de desenvolvimento conciliando métodos de proteção ambiental, justiça
social e eficiência econômica.
As
cidades são temas dos principais debates e por extensão, a construção civil e a
arquitetura verde. Essas discussões encampam desde infra-estrutura urbana até a criação de linhas de créditos para redução do déficit habitacional.
Em análise específica as soluções construtivas que resultem em menor impacto
ambiental e na qualidade da construção civil, as discussões revelam tendências
de diferentes posturas governamentais pós-evento.
É
esperado que sejam criadas políticas públicas para que as novas
construções adotem equipamentos como, placas solares para aproveitamento da
energia solar para aquecimento de água; placas fotovoltaicas para produção
de energia; cisternas para armazenagem de água de chuva, além de outros
dispositivos de controle do desperdício. A legislação criada para esse fim poderá
ser punitiva ou preventiva. Alguns governos vão optar pela obrigatoriedade do
uso de determinados equipamentos, sob pena de interrupção da obra ou de aplicação
de pesadas multas. Outros buscarão estimular a adoção dos equipamentos como contrapartida,
isso é, através da concessão de descontos no IPTU ou de outros impostos
municipais.
O principal enfoque contudo, decorre pela existência da Conferência, que estimula a criação de mecanismos para a conscientização dos profissionais envolvidos na
área quanto aos impactos decorrentes do processo construtivo. Uma construção verde é pensada desde o
projeto e além da implementação de equipamentos tecnológicos, considera também
os aspectos operacionais, os materiais utilizados de berço-a-berço, a
destinação dos resíduos, enfim, cada etapa do processo. O ciclo de impactos gerados por uma obra se inicia no projeto, passa pela execução e utilização e inclui ainda a manutenção da mesma.
Uma
perspectiva positiva a esse respeito seria a admissão obrigatória de
disciplinas sobre sustentabilidade nos cursos de engenharia civil, arquitetura e
design. Não podemos esperar grandes mudanças unicamente a partir das ações
superficiais propostas, que consideram apenas o funcionamento da construção,
quando na verdade o impacto já começa na confecção do projeto.
Poderíamos
oferecer nas universidades, disciplinas de organização do processo de projeto e
de execução para obras certificadas; laboratório para desenvolvimento e testes de novos
produtos sustentáveis; canteiro de obras verdes;
enfim, investir na capacitação dos profissionais da área e em pesquisas para
novas práticas, materiais e tecnologias. É preciso atualizar o conceito que se tem da arquitetura verde,
para reposiciona-la enquanto única alternativa coerente com os prognósticos do futuro
do planeta e não apenas como mais um sistema ou estilo construtivo.
Investindo
na qualidade dos profissionais, haverá melhora no desempenho das obras privadas
e públicas, que redundará em melhora na qualidade de vida de todos os moradores
e consequentemente, no arranjo das cidades. Se o maior desafio para os próximos
anos é mantê-las funcionais e habitáveis, será igualmente importante investir
em pesquisas sobre as novas formas de morar, trabalhar, estudar e de se locomover.
Repensar a construção de fora para dentro e de dentro para fora, através de
todos os seus autores: engenheiros, arquitetos, moradores e usuários, revirando
os paradigmas que nos trouxeram até esse momento decisivo para a manutenção da
vida urbana, com sustentabilidade.