Há 40 anos meu pai iniciou a ocupação de uma área periférica em uma cidade do Mato Grosso do Sul com o parcelamento das terras que possuía. Implantou pequenas vilas conectando-as ao tecido urbano através do traçado já existente. Porém organizou edificações residenciais e comerciais nos terrenos de forma peculiar, de modo a liberar o núcleo da quadra para uso coletivo das famílias. Com barro extraído nas proximidades do terreno foram confeccionados tijolos e peças para revestimento que após serem prensadas em uma engenhoca manual, eram secas ao sol e pintadas por nossas mãos. O bambu, matéria prima também farta nos terrenos, foi trançado pelo meu pai que o transformou em divisórias, coberturas e móveis. O pé direito mais alto; as aberturas bem pensadas; os espaços externos arborizados e permeáveis e a convivência privilegiada.
Tive bons mestres. Meu avô materno era um apaixonado por praças e
parques e acompanhei seu amor e dedicação aos espaços verdes públicos. Meu trabalho de mestrado em sua homenagem analisa questões ambientais urbanas, como a conservação das áreas verdes e de tudo que há sobre elas: história, cultura e imaginação. Patrimônios materiais e imateriais.
Muita coisa mudou entre o Kibutz que meu pai fazia e o que fazemos hoje na construção civil. Ainda que empreguemos a legalizada, regrada e normatizada sustentabilidade, a explosão das cidades, o mau uso da tecnologia e do capital apartaram nossas construções da função primordial: o abrigo. A arquitetura talvez fosse mais saudável pela proximidade com métodos artesanais e por analogia, talvez tenha piorado com os métodos industriais. Uma contradição da humanidade: melhoramos a habitabilidade individual e pioramos o habitat coletivo.