A IKEA é uma
companhia privada, de origem sueca, fundada em 1943, apresentou em uma
exposição em Lyon, França, um apartamento de 100m² com móveis
superdimensionados que convidavam os visitantes a reviverem sua infância.
O realismo
fantástico visto nas novelas “Saramandaia” (Dias Gomes, 1976) e “Meu Pedacinho
de Chão” (Benedito Ruy Barbosa, 1971) popularizou esse gênero que se manifesta através
de personagem que vira lobisomem em noite de lua cheia, que tem asas que brotam
da corcunda e que explode de tanto comer. De cavalo inanimado que se movimenta
através de engrenagens, de figurino elaborado com bugigangas impensáveis e de cenários
coloridos e fortemente expressivos.
E as reflexões
propostas – por vezes dolorosas -, se afloram nesse cenário de encantamento.
Na literatura,
em especial “Cem Anos de Solidão” (1967), obra máxima do realismo fantástico
Latino americano do colombiano Gabriel García Márquez, o leitor mentalmente compõe
os cenários descritos no livro. Desenha mentalmente as muitas gerações de
Arcádio, Aureliano e Amaranta, enquanto espera que o pergaminho se revele à
medida da morte de algum personagem. Novamente, a narrativa fundida com
elementos fantásticos e fabulosos, é usada para complementar a palavra, num
tempo de ditadura e de vigilância cerceante.
O realismo
mágico, também se manifestou nas artes e arquitetura e influenciou notáveis
escritores como o cubano italiano Ítalo Calvino (1923-1985), que escreveu “As
Cidades Invisíveis” (1972) um substrato de reflexões acerca do urbanismo.
Realismo mágico
nas ruas: Os Gêmeos
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Realismo mágico de Carlos Arturo Torres Tovar, para a Peugeot |
O realismo fantástico no espaço
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No outro extremo da comunicação visual do teatro o Teatro do
Absurdo nasceu do Surrealismo, explora os sentimentos humanos quando nos
limites da neurose e rompe com a lógica aristotélica. O siciliano Luigi
Pirandello (1867-1932) ajudou a revolucionar essa arte performática e sobre o simbolismo
do objeto escreveu:
“Cada objeto[1]
costuma transformar-se, em nós, segundo as imagens que evoca e reúne, por assim
dizer, em seu redor. É claro que um objeto também pode agradar por si mesmo,
pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção
harmoniosa; mas bem mais frequentemente, o prazer que um objeto nos dá não se
encontra no objeto em si mesmo. A fantasia embeleza-o, cingindo-o e quase projetando
nele imagens que nos são queridas. Nem nós o percepcionamos já tal qual como
ele é, mas quase animado pelas imagens que suscita em nós ou que os nossos
hábitos lhe associam. No objeto, em suma, nós amamos aquilo que nele projetamos
de nosso, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre nós e ele, a alma que
ele adquire só para nós e que é formada pelas nossas recordações. Luigi Pirandello (1867-1932)
O objeto, segundo
Pirandello, é parte real e parte significado. É uma cadeira de balanço e é o
local onde minha avó se balançava por horas. É uma janela e é a minha interface
com a cidade. O objeto enfim, é significante e significado.
Martin Julius Esslin, um
austríaco produtor, argumentista, jornalista, adaptador, tradutor, crítico,
acadêmico e erudito professor de arte dramática (Ufa!), cunhou o termo
"Teatro do Absurdo" em seu trabalho hômonimo de 1962. Outros estilos são por vezes confundidos com o
teatro do absurdo, como o Vaudeville,
Nonsense e Burlesco,
mas algumas singularidades o tornam único conforme definido por Esslin:
“O teatro do
absurdo se esforça por expressar o sentido do sem sentido da condição humana, e
a inadequação da abordagem racional, através do abandono dos instrumentos
racionais e do pensamento discursivo e o realiza através de 'uma poesia que
emerge das imagens concretas e objetificadas do próprio palco.“ (Martin Esslin, 1918-2002)
O teatro do absurdo influencia a mensagem
através dos objetos cênicos, da iluminação densa e utópica e dos figurinos.
Esperando Godot (1952), escrita pelo dramaturgo Irlandês Samuel
Beckett (1906-1989), é considerada a principal
obra do teatro do absurdo e a
abordagem estética das muitas montagens, sempre se faz pelo vazio, a estrada, a
árvore e a noite.
Montagens de Esperando Godot
Poucos elementos em cena, dois personagens em
angustiante espera e a plateia “lendo” as pausas, os vazios, as folhas que
aparecem na árvore no segundo tempo, os personagens que vão e que vem, a mala...
Enfim, interpretando os objetos e gravitando em torno do eixo das intenções de Beckett.
É tão pouco e diz tanto! E não por acaso, a
descrição da palavra minimalismo[2] faz referência as peças de
Beckett.
O teatro nos ajuda a refletir sobre a
linguagem visual como meio de comunicação e elucida sobre a força do design
minimalista na composição do espaço. Grandes mestres do
design transportaram essas influencias para móveis, objetos e ambientes e nos
anos de 1980, o design minimalista se estabeleceu como uma reação aos
movimentos pós-modernos no design. Como os grupos Memphis, Alchymia e Zeus e designers como Donald Judd, Philippe Starck, Shiro Kuramata, John Pawson entre outros.
Móveis em acrílico, metal, aramado e
espelhado: superfícies transparentes
A reflexão sobre o significado do que vemos é
substancialmente alterada pela forma do que vemos (no sentido do design) e como
vemos (nossos olhos, nossas experiências) e nesse sentido, o design tem o poder
de mudar a história. Parafraseando Pirandello
“Assim é se lhe parece!”
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[1] Significado de Objeto: Tudo
o que se oferece à vista, que afeta os sentidos.
[2] A palavra minimalismo se refere a uma série de movimentos artísticos, culturais e científicos que percorreram diversos momentos do século XX e preocuparam-se em fazer uso de poucos elementos fundamentais como base de expressão. Os movimentos minimalistas tiveram grande influência nas artes visuais, no design, na música e na própria tecnologia. O termo pode ser usado para descrever as peças de Samuel Beckett... (http://pt.wikipedia.org/wiki/Minimalismo), acesso em 29.07.14)
CALVINO, Ítalo. As cidades Invisíveis. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994
MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Cem Anos de Solidão
(Nova Edição), Rio de Janeiro: Editora Record, 2013
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