27 de ago. de 2013

Cor

A escolha das cores deve beneficiar as atividades e as pessoas que utilizarão o espaço. As cores devem ser pensadas enquanto estímulo visual com alta carga imagética e emocional sobre as pessoas. Portanto, entender as cores e suas características é sem dúvida, fundamental para obtenção de um bom projeto de design de interiores.

Existem muitos estudos sobre as cores em diferentes áreas, cujo conhecimento permite maior domínio na sua utilização.

A mais antiga teoria sobre cores que se tem notícia é de autoria do filósofo grego Aristóteles. Aristóteles concluiu que as cores eram uma propriedade dos objetos. Assim como peso, material, textura, eles tinham cores. E, pautado pela mágica dos números, disse que eram em número de seis, o vermelho, o verde, azul, amarelo, branco e preto.

Em 1810, Johann Wolfgang von Goethe propôs uma teoria com nova abordagem ao uso e entendimento das cores. Desde Newton, a cor era considerada como uma disciplina da Física. As questões levantadas por Goethe ampliaram os domínios de estudo da cor, incluindo campos como o da Fisiologia e Psicologia. Outros estudiosos e artistas estudaram a cor, como Leon Battista Alberti, Leonardo da Vinci, Le Blon, Gestalt (movimento) entre outros.
Aspectos Fisiológicos  A visão é responsável por cerca de 75% de nossa percepção. Resumindo, o ato de ver é resultado de três ações distintas: operações óticas, químicas e nervosas. Os olhos são responsáveis pela captação da informação luminosa|visual e pela transformação em impulsos a serem decodificados pelo sistema nervoso. O olho é um instrumento altamente especializado e delicadamente coordenado, e cada uma de suas estruturas desempenha um papel específico na transformação da luz.
Toda a entrada de luz do meio externo até chegar à retina, faz parte do sistema ótico, propriamente dito. A sensibilização da retina se faz quimicamente, a luz convertida em impulsos elétricos, é transportada através do nervo ótico até o córtex.
Psicologia e Fisiologia da Cor A cor enquanto elemento perceptivo tem uma série de implicações na psicologia. Dessa Forma, a percepção da cor pode causar uma série de sensações, de acordo com cada cultura, o que costuma ser muito explorado pela publicidade. 

As cores no design de interiores não se restringem à pintura de paredes, tetos e pisos. As cores devem ser pensadas dentro do conjunto arquitetônico + mobiliário + acessórios e complementos e ainda deve ser considerado o projeto luminotécnico, sabendo-se que a aparência de um objeto é resultado da iluminação incidente sobre ele.
Espectro Visível  A cor é resultado de como o olho interpreta a reemissão da luz vinda de um objeto que foi emitida por uma fonte luminosa por meio de ondas eletromagnéticas; e que corresponde à parte do espectro eletromagnético que é visível (380 a 700 nanômetros). Ondas mais curtas (ou com maiores frequências) abrigam o ultravioleta, os raios-x e os raios gama. Ondas mais longas (com menores frequências) contêm o infravermelho, o calor,  as micro-ondas e as ondas de rádio e televisão. O aumento de intensidade pode tornar perceptíveis ondas até então invisíveis, tornando os limites do espectro visível algo elástico.
A Cor não é um fenômeno físico. Um mesmo comprimento de onda pode ser percebido diferentemente pelas pessoas (ou outros seres vivos animais), ou seja, cor é um fenômeno fisiológico, de caráter subjetivo e individual.


Segundo VERDUSSEN (1978), as cores podem tornar mais agradáveis os ambientes de trabalho ou amenizar condições não favoráveis, como a rotina e repetição de certas tarefas. Estados de depressão, melancolia e de fadiga são consequências comuns à permanência prolongada ou a realização de atividades em ambientes em que, entre outros motivos, a escolha das cores não atende a observação de seus possíveis efeitos. Assim, o estado de ânimo, ao fim de uma jornada, dependerá em muito, da influência do ambiente.

Um bom uso das cores considera antes, aspectos relativos à iluminação, ventilação e circulação. A seleção de cores para obtenção de resultados deve ser cuidadosa. Todos os aspectos devem ser cuidadosamente avaliados, como: idade, sexo, cultura, raça, crença e outros aspectos que possam influenciar no uso e efeito de cores.
Fig.1 - Círculo ou roda de cores

O círculo de cores apresenta a localização dos vários matizes principais ao redor de seu perímetro. As cores primárias são: vermelho, amarelo e azul. As secundárias são: laranja, verde e violeta e as complementares são aquelas opostas umas as outras no círculo. Além das cores, aparecem também as diferentes intensidades de cada uma. Nesse sentido, também devemos pensar na saturação, luminosidade, neutralidade, brilho, transparências etc.
Matiz é a proporção de cada uma das cores percebidas: vermelho, amarelo, verde e azul. Claridade é o atributo segundo o qual uma área aparenta mais ou menos luz. Saturação é a proporção de croma de uma cor em relação a sua claridade (mais ou menos cinza).


O significado das cores:
Diferentes áreas estudam as manifestações psíquicas das cores nos indivíduos. Sabe-se que as cores podem produzir as mais variadas sensações e emoções e embora essas manifestações sejam subjetivas, a maioria concorda com alguns aspectos comuns.

O emprego da cor em ambientes hospitalares vem transformando a rotina daqueles espaços, auxiliando no equilíbrio psicológico e psíquico dos pacientes, familiares e funcionários. A correta utilização das cores nesses ambientes, ampliam a capacidade cognitiva dos funcionários, exigida pelas condições ambientais e pela carga de responsabilidade.

As cores também estão presentes na organização e segurança dos espaços e enquanto portadoras de mensagens, podem ser utilizadas em projetos de sinalização ambiental.

Algumas características:
Amarelo cor quente, estimulante, de vivacidade e luminosidade. Tem elevado índice de reflexão e sugere proximidade. Se usado em excesso, pode se tornar monótono e cansativo. Boa para ambientes de trabalho intelectual | concentração, pois atua no SNC (Sistema nervoso central). É utilizado terapeuticamente para evitar depressão e estados de angústia. Como é um estimulante, não deve ser utilizado em quartos e ambientes de repouso. Os mais vibrantes, podem ser usados em ambientes pouco ensolarados, como em empenas na face sul.
Ouro, bronze e mostarda são cores quentes, ativas, ricas, sofisticadas e elegantes.
Os cremes podem ser utilizados em qualquer ambiente.

Azul mais associado a cultura ocidental, a fé, confiança, integridade, delicadeza, pureza e paz. O azul escuro dá a sensação de frieza e formalismo. Segundo Gurgel (2010), está ligado à lealdade, respeito e responsabilidade. Podem ser aplicados em locais de negócios e de trabalho, pois acalmam a comunicação. São repousantes e relaxantes, e também podem ser exóticos e ligeiramente estimulantes. Como refletem grande quantidade de luz, aumenta visualmente os ambientes.

Laranja cor estimulante e de vitalidade. Está relacionada com ação, entusiasmo, força e intelectualidade. Possui grande visibilidade, chamando a atenção para pontos que devem ser destacados.
Terracota, canela, caramelo e mel são quentes e energéticas, mas podem diminuir o tamanho dos ambientes. Utilize em livings e salas de TVs, pois são otimistas e estimulam a socialização, criatividade e divertimento.

Verde quando em tom claro transmite sensação de paz e bem estar. É equilíbrio, honestidade, estabilidade, confiabilidade, caridade, compaixão e esperança. Nossos olhos não precisam de esforço para se adaptarem a essa cor, por isso ela se torna tão relaxante. É uma cor que sugere tranquilidade dando a impressão de frescor. Por serem calmantes, em tons mais claros, podem ser usados em quartos de bebes. Tons escuros desta cor tendem a deprimir.
Pistache, verde-maça e lima estão ligados a frescura, pureza e limpeza.


Preto Sóbrio, masculino, impessoal e sofisticado. Por absorver a luz, diminui o tamanho dos objetos.
Cinza ligado a sabedoria e a idade. Funcionam bem quando utilizados compondo com cores quentes.

Branco inocência, fé, pureza, claridade, alegria e higiene. Use amplamente com a inferência de texturas e outras cores nas superfícies. Aumenta o tamanho dos objetos e dos ambientes e gera aproveitamento total da luz.

Vermelho cor estimulante. Desperta entusiasmo, dinamismo, ação, mas também a violência. Dá sensação de calor e força, estimulando os instintos naturais e sugerindo proximidade. Se usada em excesso pode irritar, desenvolver instabilidade emocional. Não é cor ideal para ambientes onde as pessoas permanecerão por longo tempo. Os vermelhos são estimulantes do apetite, mais do que laranjas e amarelos.
Tons fortes de vermelho em ambientes pequenos podem torna-los claustrofóbicos.
Rosa e pêssego aquecem, acalmam e relaxam. Estão ligados à fragilidade, feminilidade e delicadeza.
Magenta e cereja são quentes e encorajam a introspecção, porém quando acinzentados, tornam os ambientes elegantes e quentes.

Violeta e roxo ligados à sensibilidade, à intuição, à espiritualidade e à sofisticação, além de ajudarem no desenvolvimento da percepção. Estimula o lado artístico das pessoas, mas em excesso torna o ambiente agressivo e pode levar a melancolia e depressão. Sugere muita proximidade, contato com os sentimentos mais elevados e com a espiritualidade. Assim como o vermelho, o azul escuro e o verde escuro, não se recomenda o uso em grandes áreas. Em ambientes de trabalho, desestimulam e geram desinteresse.
Lavanda, por ser delicada e tranquila ajuda na autoestima, portanto deve ser utilizada em closets e salas de vestir.


Esquemas de cores
São combinações de cores existentes na natureza ou preestabelecidas por algumas regras básicas. Os esquemas de cores devem considerar a quantidade de cada cor, as texturas das superfícies onde forem aplicadas, a iluminação natural e artificial existente e a função dos ambientes.

Os esquemas podem ser classificados como harmônicos e contrastantes:
Harmônicos neste esquema, as cores não competem entre si. A ênfase maior será sempre a composição como um todo. Variedade de texturas não afeta o resultado final.
Contrastantes nesse esquema, as cores contrastam entre si. Entre tons ou entre cores fortes e suaves, o contraste é a base da composição. Esquema mais dinâmico.

Esquema acromático pode utilizar o branco, preto ou qualquer tonalidade de cinza, já que não são considerados cores. A utilização de texturas torna a composição mais dinâmica e interessante.

Esquema neutro utiliza tons de cinza da natureza, como areia, corda, algodão, canela, etc. Alguns profissionais consideram esse esquema também acromático.

Esquema monocromático composição feita pela aplicação de uma única cor e|ou suas tonalidades, bem como branco, preto, cinza. Caso seja adotado apenas uma cor, recomenda-se a variedade nas texturas. Na opção de diferentes tons, mais fortes com mais suaves, ajuda a dar movimento, volume e deixa a composição mais interessante.

Esquema análogo com ou sem a presença do branco. Preto e cinza fazem parte do esquema. Recomenda-se o contraste entre cores fortes e suaves para maior dinamismo.

Esquema complementar cores opostas no círculo cromático como vermelho|verde, azul|laranja, violeta|amarelo, branco|preto|cinza, rosa antigo|maça-verde.

Esquema triádico utiliza cores primárias em qualquer de suas tonalidades com ou sem a adição do branco, preto ou cinza, segundo Gurgel (2010). Existem outras definições para esse esquema, com base no esquema triangular (conforme figura 2).
Fig.2 - Esquema de cores



A aplicação das cores:
Um bom projeto considera que todos os elementos estarão inter-relacionados, interagindo e interferindo na resultante, de modo que devem ser pensados em conjunto. Todos os fatores atuantes no ambiente e que produzirão sensações nos usuários, deverão ser considerados. De forma geral, as diretrizes básicas para o projeto, são:

_ Introjetar o uso da cor é um dos recursos mais econômicos para promover mudanças em um ambiente, capaz ainda de promover alterações físicas, mentais e cognitivas;
- Toda cor afeta o usuário do espaço,
- A iluminação afeta a percepção visual da cor, então os projetos luminotécnicos e de cores devem ser resolvidos ao mesmo tempo;
- A cor deve ser pensada no sentido da sua capacidade perceptiva de reduzir ou ampliar espaços;
- Cores contrastantes, aumentam a fadiga do usuário do espaço;
- Tetos brancos proporcionam melhor iluminação, por seu maior índice de reflexão;
- Falando na psicodinâmica das cores, as frias tendem ao relaxamento, enquanto as cores quentes excitam o Sistema Nervoso Central favorecendo a vitalidade, mas em quantidade maior, também geram estresse;
- Considerar o propósito primeiro do esquema de cores: conforto visual num ambiente de trabalho e descanso; dignidade em ambientes hospitalares e religiosos; excitação em bares e boates; etc.
- Usar cores para individualizar espaços: trabalho, lazer, descanso, social etc;
- Cores mais intensas e vibrantes ficam melhores em ambientes de passagem, como corredores, escadas, banheiros ou depósitos;
- As cores em objetos menores, devem ser contrastantes em relação as bases onde estão inseridos;
- Colorir superfícies maiores em áreas de trabalho ou em locais onde a iluminação for fator importante, deve-se, para não interferir na distribuição da luz por reflexão e interreflexão, ampliar os índices de reflexão da luz;
- As tonalidades parecem diferentes segundo a cor de fundo da composição;
- As cores podem alterar o modo como vemos as formas|volumes do ambiente;
- As características das superfícies (textura, quantidade de luz incidente, tipo de acabamento etc), alteram a intensidade da cor;
- Um esquema de cores quentes, funciona melhor em regiões frias;
- Um esquema de cores frias, funciona melhor em regiões quentes ou em locais onde a face oeste tenha intensa insolação no verão;
- Um esquema de cores quentes, podem ser aplicadas em regiões quentes, desde que em empenas face sul;
- A utilização de cores frias ou quentes altera visualmente as características do ambiente;
- A utilização de cores frias amplia o tamanho dos espaços;
- A utilização de cores quentes, diminuí o tamanho dos espaços.



Fontes Bibliográficas:
ARNHEIM, R. Arte e percepção visual. Uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira, 1998.
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São Paulo: SENAC, 2006. 335p. ISBN 8573594624
FRASER, Tom; BANKS, Adam. O guia completo da cor. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2007. 224p. ISBN 9788573595932
FRASCARA, Jorge. Communication design: principles, methods, and practice. New York: Allworth Press, 2004. 207p. ISBN 1581153651
GURGEL, Miriam. Projetando espaços: design de interiores. 3.ed. São Paulo: SENAC, 2010. ISBN 978-85-7359-917-6
TISKI-FRANCKOWIAK, Irene T., Homem Comunicação e Cor. São Paulo: Icone Editora, 2000.
VERDUSSEN, R., Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui a sua opinião!