27 de ago. de 2013

Design da emoção

"Para o bom design é preciso equacionar técnica (para aplicação de materiais, tecnologia etc) e emoção.  O usuário é fonte inesgotável e valiosa de inspiração, sem o qual a indústria não cria novos produtos, materiais e tecnologias para a arquitetura e o design de interiores." (KOCH, 2013)

Sempre que o designer de interiores intenciona aproximar o resultado final do projeto à expectativa do cliente, a percepção do usuário é considerada. Tudo que é visto e tocado provoca uma sensação e uma resposta. Então, a percepção (resposta) que é uma atividade mental inerente, em alguma medida está presente em todos os projetos. Mas, interpretar algo que passa pela subjetividade é desafiador e vai além de entender a necessidade física e funcional de uma pessoa. E também, não se trata de vasculhar intimidades para descobrir emoções inauditas e sonhos inconfessos. 

Então, como incorporar ao projeto processos que provoquem sensações e reações positivas que reflitam na qualidade de vida das pessoas?

As sensações devem ser planejadas, tomando como princípio resgatar a cultura, os costumes e a tradição. Reminiscências individuais, que serão resgatadas pelo designer e devolvidas às rotinas familiares no convívio com seu espaço. 

fonte de inspiração 
Para definir a «fonte de inspiração» dentre tantos materiais disponíveis, é preciso entender como o usuário sente e percebe os estímulos sensoriais recebidos. Através da percepção, o indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. De modo simplificado, a percepção consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos.

O conceito de percepção enfoca as energias do ambiente que atuam nos órgãos sensores de um indivíduo: olhos, ouvidos, nariz, língua, pele, músculos e em seu sistema nervoso central. Bartley (apud KOCH, 2009) definiu percepção como “reação discriminatória imediata do organismo para os órgãos sensoriais ativadores de energia”, onde “discriminar é escolher uma reação em que as condições contextuais têm o papel decisivo”.

Nos ambientes, a percepção está ligada ao resultado visual que será processado pelo usuário. Toda ação formal ou funcional em um ambiente está relacionada a uma resposta perceptiva.  Quando se propõe um projeto, deve-se considerar a interface do olhar e dos demais sentidos que atuam para compreensão do espaço envoltório.

Para Ferrara (1986), a relação interpretante está relacionada com a elaboração de um juízo perceptivo do observador, quando este constrói sobre determinado objeto uma interpretação e utiliza como parâmetro a experiência armazenada. Já Lynch (1988) divide as imagens entre as de topo e de base, sendo que as primeiras são responsáveis pelos volumes construídos para serem vistos a longa distância enquanto que as de base, de certo modo, normatizam o uso do espaço livre e impõem aos usuários códigos de postura. Derivações isoladas, todos concordam que o ambiente é local de intensa troca sensorial, com potencial capacidade para influenciar no comportamento (KOCH, 2009).

E nesse sentido, os estudos da relação ambiente X comportamento envolvem outras áreas, como o conforto visual, acústico, térmico, antropometria e o luminotécnico. Na área de arquitetura e design de interiores, a percepção ambiental possui papel preponderante na comunicação do espaço construído.

atributos sensórios e atributos técnicos 
A percepção do usuário está relacionada aos atributos sensórios de cada material. Então, na delimitação dos espaços e na escolha dos materiais, tecnologias e equipamentos prevalecerá a expectativa sensorial do cliente.

Um material tem atributos e associações percebidas que conferem personalidade _ou não_, quando combinados em um produto. Manzini (apud ASHBY, 2011) ilustra como a combinação de material e forma é usada para obter atributos de produtos e respostas humanas específicas. Cada material tem um atributo estético que está relacionado diretamente com seus atributos técnicos (ASHBY, M.F., 2011).

O metal, por exemplo, é frio ao toque porque dissipa o calor do dedo rapidamente. Isso acontece porque o metal apresenta boa condutividade térmica, enquanto o contrário acontece com materiais percebidos como quentes ao toque (Quadro 1).



Quadro 1 - Atributos sensórios e técnicos dos materiais
(ASHBY, 2011)

Esses atributos interessam ao designer de interiores, porque cada material deve ser adequadamente utilizado, em acordo com o caráter do ambiente, o clima e a cultura do lugar e principalmente, com o usuário. Logo, revestir piso de dormitório com um material frio, como o porcelanato, ao tato não será a melhor escolha para uma casa na montanha. A madeira seria a opção esperada. Mas, porque não sugerir um revestimento de cimento polimérico, que ao tato é “morno”, já que em sua composição tem cimento estrutural, polímeros e impermeabilizante acrílico?

A escolha dos materiais é, portanto, uma tarefa complexa e técnica baseada nos processos e materiais que melhor satisfaçam às condicionantes climáticas e requisitos sensórios. Será equacionada ainda, por fatores econômicos e por aspectos ligados à sustentabilidade e tecnologia. O designer enfim, deve apresentar soluções criativas que satisfaçam todos os aspectos apresentados, com técnica e emoção.


Trecho extraído do livro "Design para interiores - Técnica para emoção: Cozinhas e Home Theaters" (KOCH, 2013)


Referência Bibliográfica:

ASHBY, M.F. Materiais e Design: Arte e ciência da seleção de materiais no design de produto / Michael Ashby e Kara Johnson. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
FERRARA, L. D'A. A estratégia dos signos. São Paulo: Perspectiva, 1986
KOCH, Mirtes B. Parques Urbanos Sul-americanos: Imaginação e Imaginabilidade. (Dissertação mestrado, FAU USP), 2009
___________. Design para interiores - Técnica para emoção: Cozinhas e Home Theaters. Rio de Janeiro (Ebook Amazon), 2013

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