27 de ago. de 2013

Design Verde: Repensando o mobiliário

“Uma pequena reflexão, dedicada ao inesquecível amigo Percival Brosig.”
Da direita para a esquerda: Mirtes Koch, Percival Brosig, representante da SVMA e Dr Eduardo Jorge.
Serra da Cantareira, SP, 2009 


A madeira tem sido utilizada desde os primeiros tempos. Os antigos egípcios a usavam em móveis, templos e ataúdes antes de 2500 a.C. Também os gregos, no ápice de seu império (700 a.C.) construíam elaborados barcos, carruagens e armas de madeira e estabeleceram o ofício da fabricação de móveis. A diversidade de utilização consolidou-se no período medieval, com seu uso em equipamentos como bombas, moinhos de vento e relógios. Até o século XVII, a madeira era o principal material da engenharia. Atualmente, em obras, o ferro fundido, o aço e o concreto dominam, mas em algumas áreas, como no design de interiores a madeira ainda é usada em larga escala.
Segundo ASHBY (2011), “a madeira oferece uma notável combinação de propriedades. É leve e no sentido paralelo do grão, é rígida, forte e dura.” A madeira ainda apresenta-se como alternativa renovável, se cultivadas espécies próprias, especificamente para a indústria. Mas, no Brasil, a abundância de árvores nas florestas e a ineficiência no controle do desmatamento, estimulam o comércio ilegal de madeiras nobres e nesse sentido, outras alternativas devem ser consideradas.
O uso de materiais como serragem, cavaco, casca de árvore entre outros resíduos madeireiros, está sendo repensado frente aos prognósticos econômicos e ambientais. O Brasil tem grande potencial produtivo de biomassa, que em parte é inutilizado dentro das indústrias de processamento de madeira, ampliando os problemas ambientais. Segundo afirma Martha Andréia Brand da Uniplac (Universidade do Planalto Catarinense). “O resíduo madeirável, quando recebe o tratamento adequado pode ser utilizado na geração de energia térmica e elétrica, em co-geradoras e podem ser usadas no local de geração (energia térmica) ou em outras regiões, longe do local de geração (energia elétrica)”.
O resíduo madeireiro também é utilizado na confecção de painéis aglomerados. No início, a indústria de painéis optou pela madeira reflorestada, mas após crise de suprimento de pinus as indústrias de painéis, celulose e papel começaram a utilizar os resíduos. Também a produção do MDF permite a utilização de resíduos resultantes do processamento mecânico de toras em serrarias e laminadoras, sobras da matéria prima do OSB, painel de fibra de madeira de alta resistência.
Além da OSB (Orientated Strand Board), produto da Masisa, do MDF e aglomerado, outros painéis estão sendo desenvolvidos.  A Madeireira Uliana está desenvolvendo o WPC (composto termoplástico com madeira), em parceria com a empresa Indusparquet e as empresas Polibrasil e Inerject. Esses produtos são utilizados na indústria da construção civil (fechamento de paredes na construção a seco e confecção de formas de concreto), na indústria de móveis (principalmente estofados), na arquitetura de interiores (como revestimento e isolante termo-acústico) e na fabricação de embalagens. Algumas indústrias madeireiras aproveitam totalmente os resíduos que produz, na confecção de painéis, co-geração de energia elétrica e de energia térmica e ainda comercializam o excedente.

Fig.1: OSB (Orientated Strand Board). No Brasil: fechamento de obras. Em Londres: divisórias na sede do YouTube 
(projeto do Penson group)

Existem também projetos para a utilização da serragem (pó de serra), resíduo do corte de madeira que normalmente é queimado ou jogado em rios prejudicando o meio ambiente. A serragem pode ser aproveitada como matéria-prima alternativa à madeira, na construção de decks, esquadrias de ambientes externos, moldes e andaimes. Também pode substituir parte da areia na confecção de blocos de concreto para vedação ou elementos de enchimento de pré-lajes, comportando-se como um material mais leve e termo isolante, em função da baixa condutividade térmica e como isolante acústico. Desenvolvido por alunos da Unicamp, o processo de termoconverção de biomassa (serragem de madeira), que resulta em carvão ecológico, para uso doméstico, também está sendo desenvolvido por indústria madeireira.
Por outro lado, para o pleno reaproveitamento do subproduto madeireiro é preciso repensar o desenho dos móveis e objetos confeccionados a partir dessa matéria prima, equivalendo-os aos parâmetros econômicos e ambientais ambicionados. Uma alternativa para uso adequado dos painéis é em móveis modulares. 
A modularidade foi pensada dentro de um processo de racionalização da indústria moveleira, com a finalidade de diminuir os custos de produção e montagem. Historicamente, o racionalismo no Brasil ganhou campo a partir de 1930, consolidando-se na década de 1950, com o mobiliário desenvolvido por mestres como José Zanine Caldas, Michel Arnoult, Joaquim Tenreiro, Lina Bo Bardi, Bernard Rodofsk entre outros. Mas o interesse industrial do móvel modular surgiu a partir da observação dos problemas de sua inserção na habitação popular.
Segundo Lemos (1978), o principal problema da habitação popular é a sobreposição de tarefas, causada pela proximidade das áreas de serviços e social e a aglomeração de mobiliário nesses locais, ocasionada pela redução de áreas. O sistema modular permite ao usuário que as peças sejam adquiridas separadamente e montadas por ele mesmo (bricolagem), conforme o espaço, necessidade e disponibilidade financeira. Esse sistema se caracteriza por ser componível, flexível e desmontável, ampliando as possibilidades de uso. Para contemplar os conceitos de modulação, flexibilidade e funcionalidade os módulos confeccionados em MDP e fixados com perfis de alumínio, podem receber portas e acessórios posteriormente, adaptando-os aos diversos usos. 

A questão da redução da moradia, recentemente, não se restringe a camada popular descrita por Lemos (1978), ao contrário, é mais uma tendência imobiliária que responde à especulação e a falta de espaço das cidades.


Tipos de painéis:
Aglomerado: painel de partículas de madeira de eucalipto ou pinus impregnados com resinas sintéticas submetidas ao calor e pressão. Disponível nos revestimentos em BP (Baixa Pressão) e em lâmina celulósica FF (Finish Foil). As placas de aglomerado recebem acabamentos como: pintura, revestimento melamínico e laminados de madeira. Os painéis são encontrados em várias dimensões e espessuras; sendo que as mais utilizadas são de 15, 18 mm (para móveis) e 24, 32 mm (para painéis e divisórias). Por ser um material com uma densidade não muito boa seu preço é menor do que os outros painéis.
Fig.2: Aglomerado


MDF
O MDF (Medium Density Fiberboard) é uma chapa plana de média densidade produzida a partir de fibras de madeira. As fibras aglutinadas com resina sintética são submetidas à alta temperatura e pressão. Para a obtenção das fibras, a madeira é cortada em pequenos cavacos que, em seguida, são triturados por equipamentos denominados desfibradores. Basicamente, utiliza-se o pinus reflorestado e selecionado para confecção de tais painéis.
O MDF permite receber formas arredondadas e com riqueza de contornos. Isso pode conferir ao móvel maior valor comercial. Ele recebe mais facilmente a aplicação tanto de pintura como de PVC e é recomendado para os casos que necessitem de usinagens de superfície ou topo, usinagens em baixo relevo, entalhes ou cantos arredondados, pois ele proporciona melhor resultado de acabamento.
Existem também os painéis revestidos com melamina, com diferentes padronagens bidimensionais.

Fig.3: Paineis de MDF de média densidade e com melamínicos estampados

Fig.4: Melamínicos com textura decorativa


OSB: painel de madeira com uma liga de resina sintética, feita de três camadas prensadas com tiras de madeira ou “strands”, alinhados em escamas. 
Fig.5: OSB (Panel Strand Orientation)



Compensado
O compensado é formado por folhas de madeiras coladas umas às outras dispostas em direções cruzadas, visando equilibrar tensões e reduzir riscos de empenamento. Existe também o compensado tipo sarrafeado com miolo maciço e semi-oco. As madeiras utilizadas nos compensados em geral são pinho, cedro ou jequitibá.
Diferente do MDF que é revestido por melamina, o compensado é revestido por Formica®, sendo segundo os fabricantes, 10 vezes mais resistente que o MDF. Comparando-o ainda com o MDF, o compensado sarrafiado apresenta:
·         Maior resistência à umidade;
·         Material mais leve (não necessita de ferragens especiais);
·         Maior aderência de pregos e parafusos;
·         Menor grau de empenamento.
Fig.6: Paineis de compensado laminado e sarrafiado



Compensado Naval
Chapa de compensado produzida através da prensagem de diversas lâminas de madeira, unidas através de cola fenólica (grande resistência a umidade) Indicação de uso: assoalhos e carrocerias de caminhão e ônibus, móveis para ambientes úmidos (banheiros, cozinhas, etc), móveis para embarcações. Compensado Multilaminado X Compensado Naval: diferentemente do Compensado Multi, o Compensado Naval é fabricado com cola fenólica, fazendo com que as lâminas de madeira não se desgrudem umas das outras em ambientes úmidos.
Fig.7: Painel de compensado naval



Compensado flexível
Chapa composta de lâminas torneadas de madeiras tropicais, que se sobrepõem, são fixadas com cola do tipo uréia-formol, à qual se adiciona imunizante, prensadas e lixadas; a lâmina mais central tem espessura de 0,7mm, posicionando-se no mesmo sentido das subsequentes, o que permite a flexibilidade do produto. Sua imunização e prensagem a quente asseguram que o produto é livre de infestação na origem. Chapas para fabricação e montagem de móveis, stands, divisórias, expositores, mezaninos, forros, mostruários, artesanato, pallets, embalagens, carrocerias de caminhão, embarcações, etc.
Fig.8: Painel de compensado flexível


MDP
Tanto o MDP como o MDF são produzidos à partir do pinus e do eucalipto. De uso limitado, porém, o MDP é confeccionado à partir de partículas de madeira em camadas, ficando as mais finas na superfície e as mais delgadas no miolo. Porém, ambos são classificados como Painéis de Madeira de Média Densidade.
O MDP é mais utilizado na fabricação de móveis, residências e comerciais, de linhas retas e formas orgânicas, como portas, laterais, prateleiras, divisórias, tampos retos ou pós-formados, laterais e frentes de gavetas retas, enfim, em partes verticais e horizontais do móvel.

Fig.9: Painel de MDP 


Referência Bibliográfica:
BROSIG, Percival. O Mobiliário na Habitação Popular. (Dissertação de mestrado apresentada à faculdade de arquitetura e urbanismo da USP). São Paulo, 1983.
GURGEL, Miriam. Projetando espaços: design de interiores. 3.ed. São Paulo: SENAC, 2010. ISBN 978-85-7359-917-6
LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc.: um estudo sobre as zonas de serviço da casa paulista. São Paulo: Perspectiva, 1978. 
ASHBY, M.F. Materiais e Design: Arte e ciência da seleção de materiais no design de produto / Michael Ashby e Kara Johnson. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
Martha Andréia Brand (Uniplac - Universidade do Planalto Catarinense) in http://www.revistareferencia.com.br/index2.php?principal=ver_conteudo.php&uid=237&edicao2=47 (acesso em 22.06.2012)

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