29 de ago. de 2013

Rio de Janeiro: arquitetura importada e conforto


         
O novo modelo arquitetônico prevalente nos bairros da zona oeste do Rio de Janeiro _cujo sótão habitável é um dos principais determinantes formais_, redesenha os condomínios de alto padrão e se apoia nas regras insanas do mercado imobiliário. Simetricamente, os ocupantes dos novos espaços terão que arcar com o ônus de uma arquitetura importada, criada para outras realidades climáticas. 

O sótão habitável é uma solução que permite aproveitamento total do espaço construído, o que em tese é bom para quem vende e também para quem compra. Mas, será que esse tipo de construção é a mais adequada para regiões quentes como o Rio de Janeiro?

O telhado alto, com inclinações acentuadas, mansardas, bay-windows e telhas tipo shingle é um sistema construtivo nativo de países frios, cuja finalidade vai muito além do aproveitamento do sotão.

A inclinação adotada tem a função de escoar a neve, de modo a não acumular e criar um sobrepeso na cobertura. Em períodos ensolarados, o telhado recebe a principal cota de calor, que será armazenado entre a cobertura e a subcobertura e transferido para os demais ambientes deixando a casa quentinha. As janelas tipo bay-windows tem aberturas discretas para não escapar calor e as paredes recebem revestimentos térmicos tipo clapboard (pré moldados em concreto, madeira, PVC etc). Tudo para atender uma arquitetura de alta inércia.

O clima na cidade do Rio de Janeiro tem amplitude térmica relativamente baixa, com verões quentes e úmidos e invernos amenos e com poucas chuvas. Em áreas mais urbanizadas é comum o efeito "ilha", com temperaturas acima dos 40°C. Esse tipo de clima requer construções de média à baixa inércia, ou seja, que tenham paredes finas para trocas rápidas de temperatura e aberturas generosas com barreiras físicas para proteger do sol, mas que permitam que o vento transpasse todos os ambientes.

O telhado para as construções em regiões quentes como o Rio de Janeiro é um item realmente importante, já que em horários de sol intenso a temperatura da cobertura pode chegar a 70°C.

Historicamente, o telhado que se convencionou utilizar no Brasil era definido pelas condições climáticas e limitação na oferta de produtos. As telhas tipo capa e canal, moldadas nas coxas dos trabalhadores determinava a inclinação do telhado nos limites da sobreposição estável das peças. Os beirais foram projetados para jogar a água para a rua e para o quintal. Uma subcobertura de palha ou tiras de madeira criavam um colchão de ar no sótão para bloquear a passagem de calor para o ambiente. Eram simples, porém eficientes.

Hoje colocar telhado na edificação não é regra, mas quando adotado, é definido pelas condições climáticas da região, tipos de telhas disponíveis (telhas de barro, metal, plástico, amianto, vidro, zinco, concreto, palha etc), regime de ventos, índices pluviométricos e principalmente, pela estética (telhado clássico, neoclássico, colonial, normando etc).

A admissão do chalé ou de suas variações com telhados habitáveis, requer analise dos aspectos ambientais e também econômicos, considerando que o custo desse tipo de arquitetura não termina com sua construção. O maior custo está na manutebilidade do imóvel, gerado pelo uso intensivo de ar condicionado para climatização artificial dos espaços. Outro custo, será para iluminamento dos ambientes, já que o aproveitamento da iluminação natural é limitado pelas pequenas aberturas que também não deixam ver a paisagem natural carioca, farta em todas as visadas. A forma da cobertura ainda dificulta a instalação de placas solares para aquecimento de água e de placas fotovoltáicas para produção de energia, desprezando uma potencial e abundante fonte natural de energia, o sol. E por fim, quando se divide o espaço com o reservatório de água, o incomodo do barulho deve ser minimizado com a instalação de isolantes acústicos.

Em resumo, do ponto de vista climático, o chalé é tão adequado para o Rio como seria ir de casaco para a praia num dia de verão. 

A escolha do partido arquitetônico deve ser confrontada também, com a necessidade de poupar os recursos naturais pelo bem comum. Se a escolha, contudo, não for pelo planeta, que seja para conviver em harmonia com o clima e entorno natural da cidade do Rio de Janeiro.

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