Será que as lembranças
se apagam com o tempo, perdendo um sentido de cada vez? Ou será que o sentido
mais estimulado será mantido por mais tempo na memória? Ou ainda, que a criança
vê em blocos de forma sincrética, como afirma a psicologia da percepção?
Segundo a psicologia da
percepção, o sistema nervoso central da criança ainda está em desenvolvimento e
a aquisição perceptiva está intimamente ligada à maturação neural, associada
ainda as estratégias aprendidas. Existem inúmeros estudos e experimentos que
buscam mensurar no desenvolvimento das percepções tátil, olfativa, gustativa e
auditiva, a parte inata e a aprendida. No entanto, hoje a maioria dos
pesquisadores concorda que já nascemos com algum repertório genético que será
ampliado e aprimorado ao longo dos anos. (SIMÕES e TIEDEMANN, 1985)
Dentre os trabalhos
dedicados a estimulação tátil, o mais conhecido foi registrado entre os séculos
XIX e XX, com crianças com menos de um ano que eram encaminhadas a orfanatos.
Elas desenvolviam uma doença conhecida na época como “marasmo”, causado pela
falta de manipulação e de estimulação tátil através de contato físico, carinhos
e embalos que resultassem em estimulação cinestésica. Concluíram que a carência
desses estímulos produzia alterações nas células, glândulas e músculos.
Quanto à percepção
auditiva, existem poucas informações, mas as referências experimentais dão
conta que recém-nascidos apresentam capacidade de diferenciar fonemas (pa, ma)
e de localizar sons e atribuir intensidades com reações físicas.
Sobre a percepção
olfativa e gustativa sabe-se que recens nascidos tem a capacidade de escolher
odores dispersos no ar, voltando sua cabeça para os agradáveis e desviando dos
desagradáveis. (SIMÕES e TIEDEMANN, 1985)
Em síntese, o olfato tem
forte relação emocional e com a memória, o cheiro é a forma de reconhecer
objetos ou de ajudar outros sentidos na identificação dos mesmos, como exemplo
o paladar que precisa do olfato para examinar o alimento. A audição, além da
comunicação oral é responsável pelo sentido do equilíbrio. O ouvido possui
estruturas especializadas que fazem a distinção entre sons graves e agudos que
quando deslocados, provocam o desequilíbrio do corpo. Então, para melhor ouvir,
é preciso estar parado. Todos os sentidos convergem para o tato que é o maior
dos sentidos, com área de aproximadamente 2m² de superfície e 5 milhões de
células sensoriais. O espaço é percebido pelo corpo todo, e a informação do
meio repercute no sistema háptico.
A visão, por ocupar
cerca de 87% de atividade entre os cinco sentidos, dá a impressão de que a
realidade é o que vemos. A percepção visual é a mais estudada e oferece amplo
material sobre o tema com abordagens sobre os níveis de percepção gradativos da
visão, como a configuração dos objetos e dos seres; a visão do volume pelo jogo
de luz e sombra e a sensação de peso pela textura e padrão. Os tipos de visão
monocular (animais) e binocular (humanos), a fisiologia da visão e o espectro
eletromagnético entre outros. (OKAMOTO apud KOCH, 2009)
Rudolf Arnheim (1998)
explora inúmeras abordagens da psicologia visual e confirma a interface neural,
inata e aprendida no processo de visão, quando explica a fisiologia do
olhar.
“A imagem ótica da
retina estimula cerca de 130 milhões de receptores microscopicamente pequenos e
cada um deles reage ao comprimento de onda e à intensidade da luz que recebe.
Muitos destes receptores não desempenham seu trabalho independentemente.
Conjuntos de receptores constituem-se em sistema neural. De fato, sabe-se, pelo
menos, através dos olhos de certos animais, que tais conjuntos de receptores
retinianos cooperam na reação a certos movimentos, bordas, tipos de objetos.
Mesmo assim, alguns princípios ordenadores são necessários para transformar a
infinidade de estímulos individuais nos objetos que vemos.”
A percepção é também
influenciada pela cultura e pelo ambiente geográfico, mas existem muitas
considerações como as diferenças biológicas e fisiológicas de grupos éticos ou
culturais.
Alguns estudos apontam
para diferenças de percepção entre indivíduos de olhos claros e escuros. Os
povos que habitam regiões geográficas quentes possuem em geral olhos de
coloração escura, o que se constitui numa adaptação seletiva que possibilita a
esses indivíduos suportarem a claridade intensa. A coloração da íris é
acompanhada também por uma pigmentação amarelada nos meios ópticos o que
provoca uma redução na discriminação das cores na faixa azul-violeta. Em
determinadas localidades da África, não existe definição linguística para essas
cores. Já os olhos claros, geralmente encontrados em regiões geográficas
geladas, permitem uma pequena difração dos raios de luz fazendo com que certas
ilusões visuais, que dependam da nitidez, tenham maior índice de erro.
A percepção é
diferenciada nas duas pontas da vida. As modificações devido a lesões ou
deterioração fisiológica dos órgãos da percepção provocam alterações nos demais
órgãos dos sentidos, como um meio estratégico de suprir a limitação. Rappaport
(1985) declara os órgãos dos sentidos como sistemas perceptivos plásticos, uma
vez que adaptam-se ao habitat e as funções de cada indivíduo. (RAPPAPORT apud
SIMÕES, Edda A. Q.TIEDEMANN, Klaus B.)
Referência Bibliográfica:
ARNHEIM, R. Arte e percepção visual. Uma
psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira, 1998
FERRARA, L. D'A. A estratégia dos signos. São Paulo:
Perspectiva, 1986
KOCH, Mirtes B. Parques Urbanos Sul-americanos: Imaginação e
Imaginabilidade. (SIMÕES, Edda A. Q.TIEDEMANN, Klaus B. Psicologia da
Percepção. São Paulo: EPU Dissertação mestrado, FAU USP), 2009
LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1997
PARK, R. E. A cidade: sugestões para a investigação do
comportamento humano no meio urbano. In: VELHO, Otávio Guilherme (Org.).O
fenômeno urbano. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973, 1985
Muito bom esse artigo. Usei, hoje, a expresao "inteligencia perceptiva" para explicar a sensibilidade de duas pessoas que mostraram reacao positiva a um video que enviei a quarenta de meus contatos.
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